sábado, 28 de março de 2015

O sentido do sofrimento

 
A vida não nos poupa de momentos de sofrimento, insegurança e ansiedade. Tudo é conquista e, cada passo dado demanda esforço e exigente empenho. Também a doença que a todos atinge, mais cedo ou mais tarde, é momento de provação, por vezes dramático, uma dilaceração que tem como consequência o afastamento de nossas atividades, o distanciamento da comunidade e das pessoas.
Na doença o homem percebe em si a ruptura da unidade total de seu ser. Traz situação de mal-estar, de frustação. Sua autorrealização é ameaçada, sua vida familiar e social é rompida. Cada um reage de maneira diversa: mecanismo de defesa, aceitação, agressividade, revolta. Parece que palavras e gestos de alívio humano não significam quase nada perante a gravidade de determinadas tribulações físicas e sofrimentos espirituais, de modo particular, diante da iminência da morte.
Os que vivem uma doença grave fazem a experiência de impotência e de fragilidade, renunciam à sua autonomia. Vivem inativos. Não podem fazer projetos. Pensam quase só em seu estado de debilitação. O sofrimento humano suscita compaixão, inspira respeito e, a seu modo, intimida. É um enigma intocável, inevitável, logo, há um imperativo - aprender a lidar com ele.
O vocabulário do Antigo Testamento não possuía uma palavra específica para designar o sofrimento, este era denominado de "mal". Portanto, o sofrimento era como um castigo do pecado e não como provação . O sofrimento, nesta vida, não é maldição, pode ser um remédio amargo, até difícil de tomar, no entanto, é sempre remédio e oferecido por amor de Deus. Na perspectiva teológica, o sentido profundo do sofrimento descobre-se seguindo a Palavra de Deus revelada.
"O cristão encontra, na doença e no sofrimento, uma forma de se aproximar de Deus na medida em que, onde os outros encontram angústia e dor, o cristão dominando e assimilando o sofrimento, retira dele um sentido de vida.
O apóstolo Paulo busca conforto e segurança, um sentindo para o sofrimento ao escrever à comunidade dos Colossenses nestes termos: “Completo em minha carne o que faltou às tribulações de Cristo” (Cl1,24). Nesse sentido, é necessário interpretá-lo, fazer a sua leitura e conseguir tirar dele o melhor resultado no projeto da vida.
É importante compreender que o sofrimento é, tão somente, um limite. E quando experimentamos o limite de nossa vida, reconhecemos também a presença amorosa de Deus que nos ampara, que nos conforta: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e abatidos e eu vos aliviarei”. Jesus assumiu nossa vida humana para nos resgatar da dor e da morte. Nesse sentido o nosso sofrimento tem valor de redenção. É sobretudo nesses momentos que os cristãos devem se tornar mais solidários uns com os outros exprimindo com verdadeiros gestos de amor a misericórdia de Cristo e a sua proximidade ao doente. Cristo se aproxima dos enfermos através de nós, seus discípulos.
Dentro das Santas Missões Populares Redentoristas reservamos um momento especial para celebrar com eles o dom da vida. Não celebramos a doença, mas procuramos mostrar como eles são importantes para Deus e para a comunidade. A mensagem levada é de ânimo e de conforto. Pedimos que elas sejam pessoas confiantes, reconhecidas a Deus, com pensamentos positivos porque a vida é para ser distribuída na alegria. É preciso aceitar para redimir e associar-se ao sofrimento de Jesus. Jesus é a escola. Jesus nos ensina a viver e nos ensina a morrer. Jesus sempre falou: “Tua fé te curou”.
Enfim, a mensagem para toda comunidade-Igreja. É a Igreja que vai até eles através de nós, na comunidade e nos setores (grupos) missionários. É ser o bom samaritano que auxilia, ajuda a cruz ficar “mais leve”, que ampara e que conforta com uma palavra de esperança e nos outros cuidados necessários.
Pe. Ivair Luiz da Silva, C.Ss.R.
Missionário Redentorista








“Viver a Fé”



         Viver pela fé é condição essencial na história de quem teve um encontro pessoal com Jesus. Uma vez que tomamos consciência de que somos olhados amorosamente por Ele, não há mais espaço para um estilo de vida que não seja pautado pela confiança plena, pela certeza de que o Altíssimo é por nós.
        No entanto, o encontro pessoal com o Senhor não pode ser entendido como um fato meramente histórico, aprisionado no passado. Precisamos urgentemente compreender que esse encontro precisa se tornar uma espécie de seiva vivificante da nossa caminhada: é daí que haurimos forças para enfrentar toda e qualquer tribulação e não nos damos por vencidos frente à primeira queda ou dificuldade.
        Jesus nos dá esta graça especialíssima, a qual recorremos, infelizmente, com tão pouca frequência: vivenciar o encontro pessoal com Ele no nosso hoje, diante de cada situação; não apenas como algo a se rememorar, mas fato concreto que perdura em nossa história de salvação e ajuda a dar sentido à caminhada, ainda que em meio a tantas adversidades.
Somente vive pela fé quem busca atualizar no dia a dia a experiência do encontro pessoal com o Senhor, quem vive de modo perene esse deixar-se encontrar e invadir pelo Amado. Por isso, podemos afirmar que aquele que vive pela fé, vive a experiência constante do encontro com o Senhor.
      "Embraçai o escudo da fé" (Ef 6, 10), exorta São Paulo. Esse escudo não apenas nos protege do Maligno, mas também de nós mesmos. Apenas quando vivemos de modo comprometido a realidade da fé conseguimos entender que não somos propriedade nossa, mas de Alguém, cujo poder salvífico somos constituídos testemunhas.
      Viver na fé, no encontro com o Senhor, é condição fundamental para conseguirmos contemplar e discernir de modo correto a ação d'Ele em nossa vida, especialmente quando ela foge do esquema por nós planejado. Caso contrário, corremos o sério risco de viver sob o jugo de um legalismo maldito, no qual já não há mais espaço para uma ação livre do Senhor, como alerta São Paulo: "Todos os que se apoiam nas práticas legais estão sob um regime de maldição" (Gl 3, 10).
       Viver na fé, no encontro com o Senhor é abraçar com convicção a verdade de que a única lei bendita é a liberdade para amar e construir comunhão. "Todo o reino dividido contra si mesmo será destruído. [...] Quem não está comigo, está contra mim" (Lc 11, 17.23)                      
       O Senhor deixou-se encontrar e revelou-se a nós para que vivêssemos esta grande alegria: pela fé, viver, estar com Ele e resplandecer Sua presença no mundo.
Peçamos o auxílio do Senhor:
       Senhor, não desejo nada mais senão viver a confiança plena, a certeza de que Tu és por mim. Fortificai em mim a vontade de viver o encontro pessoal contigo como realidade concreta do meu hoje!
       Preciso viver na fé, Senhor. Dai-me a graça de discernir a Sua ação em minha vida e o ardor inquebrantável por buscar-Lo. Quero ser Sua testemunha no mundo. Amém!

Seu irmão, Leonardo Meira
Leo Meira

Domingo de Ramos

      

A Semana Santa começa no domingo chamado de Ramos porque celebra a entrada de Jesus em Jerusalém montado em um jumentinho – o símbolo da humildade – e aclamado pelo povo simples que o aplaudia como "Aquele que vem em nome do Senhor".

      Esse povo tinha visto Jesus ressuscitar Lázaro de Betânia há poucos dias e estava maravilhado. Ele tinha a certeza de que este era o Messias anunciado pelos Profetas; mas esse povo tinha se enganado no tipo de Messias que ele era. Pensavam que fosse um Messias político, libertador social que fosse arrancar Israel das garras de Roma e devolver-lhe o apogeu dos tempos de Salomão.

     Para deixar claro a este povo que ele não era um Messias temporal e político, um libertador efêmero, mas o grande libertador do pecado, a raiz de todos os males, então, Ele entra na grande cidade, a Jerusalém dos patriarcas e dos reis sagrados, montado em um jumentinho; expressão da pequenez terrena. Ele não é um Rei deste mundo!

     Dessa forma o Domingo de Ramos é o início da Semana que mistura os gritos de hosanas com os clamores da Paixão de Cristo. O povo acolheu Jesus abanando seus ramos de oliveiras e palmeiras. Os ramos significam a vitória: "Hosana ao Filho de Davi: bendito seja o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel; hosana nas alturas".

     Os Ramos santos nos fazem lembrar que somos batizados, filhos de Deus, membros de Cristo, participantes da Igreja, defensores da fé católica, especialmente nestes tempos difíceis em que ela é desvalorizada e espezinhada.

      Os Ramos sagrados que levamos para nossas casas após a Missa, lembram-nos que estamos unidos a Cristo na mesma luta pela salvação do mundo, a luta árdua contra o pecado, um caminho em direção ao Calvário, mas que chegará à Ressurreição.

      O sentido da Procissão de Ramos é mostrar essa peregrinação sobre a terra que cada cristão realiza a caminho da vida eterna com Deus. Ela nos recorda que somos apenas peregrinos neste mundo tão passageiro, tão transitório, que se gasta tão rápido. Ela nos mostra que a nossa pátria não é neste mundo mas na eternidade, que aqui nós vivemos apenas em um rápido exílio em demanda da casa do Pai.

      A Missa do domingo de Ramos traz a narrativa de São Lucas sobre a paixão de Jesus: sua angústia mortal no Horto das Oliveiras, o sangue vertido com o suor, o beijo traiçoeiro de Judas, a prisão, os mau tratos nas mãos do soldados na casa de Anãs, Caifás; seu julgamento iníquo diante de Pilatos, depois, diante de Herodes, sua condenação, o povo a vociferar "crucifica-o, crucifica-o"; as bofetadas, as humilhações, o caminho percorrido até o Calvário, a ajuda do Cirineu, o consolo das santas mulheres, o terrível madeiro da cruz, seu diálogo com o bom ladrão, sua morte e sepultura.

       A entrada "solene" de Jesus em Jerusalém foi um prelúdio de suas dores e humilhações. Aquela mesma multidão que o homenageou motivada por seus milagres, agora lhe vira as costas e muitos pedem a sua morte. Jesus que conhecia o coração dos homens não estava iludido. Quanta falsidade nas atitudes de certas pessoas!

Quantas lições nos deixam esse domingo de Ramos!

       O Mestre nos ensina com fatos e exemplos que o seu Reino de fato não é deste mundo. Que ele não veio para derrubar César e Pilatos, mas veio para derrubar um inimigo muito pior e invisível, o pecado. E para isso é preciso se imolar; aceitar a Paixão, passar pela morte para destruir a morte; perder a vida para ganhá-la.

      A muitos ele decepcionou; pensavam que ele fosse escorraçar Pilatos e reimplantar o reinado de Davi e Salomão em Israel; mas ele vem montado em um jumentinho frágil e pobre. Que Messias é este? Que libertador é este? É um farsante! É um enganador, merece a cruz por nos ter iludido. Talvez Judas tenha sido o grande decepcionado.

       O domingo de Ramos ensina-nos que a luta de Cristo e da Igreja, e consequentemente a nossa também, é a luta contra o pecado, a desobediência à Lei sagrada de Deus que hoje é calcada aos pés até mesmo por muitos cristãos que preferem viver um cristianismo "light", adaptado aos seus gostos e interesses e segundo as suas conveniências. Impera como disse Bento XVI, a ditadura do relativismo.

      O domingo de Ramos nos ensina que seguir o Cristo é renunciar a nós mesmos, morrer na terra como o grão de trigo para poder dar fruto, enfrentar os dissabores e ofensas por causa do Evangelho do Senhor. Ele nos arranca das comodidades, das facilidades, para nos colocar diante Daquele que veio ao mundo para salvar este mundo.

Fonte: Canção Nova

A ousadia do “Pai nosso”

 

Na santa Missa, quando o presidente da celebração introduz a oração do “Pai nosso”, tem à sua disposição várias formas para convidar a comunidade a apresentar ao Pai os pedidos que Jesus nos ensinou a fazer. Uma delas, a mais antiga, propõe: “Obedientes à palavra do Salvador e formados por seu divino ensinamento, ousamos dizer…”

Pai Nosso

“Ousamos dizer….” Sim, somente impulsionados por uma santa ousadia nós, pecadores, temos mesmo a coragem de apresentar a Deus pedidos tão amplos e grandiosos como os sete que fazem parte do “Pai nosso”. Mas quem nos ensina a ter tal ousadia é o próprio Jesus. É que seus discípulos, vendo-o em oração, lhe pediram: “Ensina-nos a rezar!” (Lc 11,1). Os discípulos, como bons judeus, sabiam rezar. A oração dos Salmos era parte integrante de seus encontros, aos sábados, na Sinagoga. Mas eles queriam rezar como Jesus. Desejavam, na verdade, entrar em sua intimidade. Aprenderam, então, que rezando ao “nosso” Pai, é a seu Pai – o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo – que nos dirigimos pessoalmente, e o fazemos com confiança, porque Jesus nos purifica de nossos pecados (cf. Hb 1,3) e nos introduz diante da face do Pai (cf. Hb 2,13).

Ao rezar o “Pai nosso” fazemos sete pedidos; sete bênçãos. A primeira série de pedidos tem por objeto a glória do Pai: a santificação de Seu nome, a vinda de Seu Reino e o cumprimento de Sua vontade. Aí está uma característica do amor: pensar primeiramente  naquele que amamos. Os quatro pedidos seguintes apresentam-lhe nossos desejos: eles dizem respeito à nossa vida, para nutri-la ou para curá-la do pecado, e se relacionam com nosso combate, visando à vitória do Bem sobre o Mal.

Eis nossas solicitações:

1º – “Santificado seja vosso nome”. Ao pedir isso, entramos no plano de Deus. Seu nome, revelado a Moisés e apresentado por Jesus, deve ser santificado em todas as nações e por todos os seres humanos.

2º – “Venha a nós o vosso Reino”. Com esse segundo pedido, temos em vista principalmente a volta de Cristo e a vinda final do Reino de Deus; solicitamos, também, pelo crescimento de Seu Reino no “hoje” de nossas vidas.

3º – “Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu”. No terceiro pedido, rezamos a nosso Pai para que se realize o que Ele deseja; e o que Ele mais deseja é “que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,3-4).

4º – “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”. Esse quarto pedido exprime nossa confiança filial no Pai do céu. “Pão nosso” designa o alimento terrestre necessário à subsistência de todos nós, mas significa, também, a Palavra de Deus e o Corpo de Cristo. Trata-se, pois, de um alimento indispensável à nossa vida e essencial no Banquete do Reino que a Eucaristia antecipa.

5º – “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos têm ofendido”. O quinto pedido implora a misericórdia de Deus para nossas ofensas – misericórdia que somente pode penetrar em nosso coração se soubermos perdoar a todos, a exemplo de Cristo.

6º – “Não nos deixeis cair em tentação”. Aqui, rogamos a Deus que não nos permita trilhar o caminho que conduz ao pecado. Esse pedido implora o Espírito de discernimento e de fortaleza; solicita a graça da vigilância e a perseverança final. “Ser tentado” faz parte da vida; é uma das consequências do pecado original em nós. O problema nasce quando consentimos na tentação.

7º – “Mas livrai-nos do mal”. No último pedido, solicitamos que se manifeste a vitória já alcançada por Cristo sobre Satanás – aquele que se opõe frontalmente a Deus e a seu plano de salvação. O mal, aqui, não é uma abstração, mas designa uma pessoa – o pai da mentira. A vitória sobre o “príncipe deste mundo” (cf. Jo 14,30) foi alcançada, de uma vez por todas, por Jesus.

Pelo “Amém” final exprimimos nossa concordância total em relação aos pedidos feitos. Ora, como Deus, “rico em misericórdia” (Ef 2,4), Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, deixaria de atender a nossos ousados pedidos, já que feitos com tanta confiança?…

Dom Murilo S.R. Krieger, scj