Os laços de amizade são tão fortes, que são estudados por filósofos, cientistas e representados nas artes
Na recente visita do Papa Francisco ao Paraguai, um dos eventos mais aguardados foi o Encontro com a Juventude, em Assunção. O Santo Padre ouviu relatos de três paraguaios: Liz, Orlando e Manuel. Diante do que ouviu, Francisco falou de maneira espontânea, colhendo ensinamentos para todos a partir da vida desses jovens. No entanto, vale a pena enfatizar alguns trechos do discurso preparado por ele, publicado pelo Vaticano, em seguida. “A amizade é um dos presentes maiores que uma pessoa, um jovem pode ter e pode oferecer. É verdade. Como é difícil viver sem amigos! Vede se esta não é uma das coisas mais belas que Jesus disse: ‘Chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai’ (Jo 15,15)”.
Os laços de amizade são tão fortes, que são estudados por filósofos, cientistas e representados nas artes. No século quarto antes de Cristo, Aristóteles afirmava que a amizade é uma virtude essencial e necessária à vida. Na atualidade, o tema continua a ser fonte de análises. Estudo recente, de 2010, ‘How Many Friends Does One Person Needs? Dunbar’s number and other evolutionary quirks’ (em tradução livre: ‘Quantos amigos uma pessoa precisa? O número de Dunbar e outras peculiaridades evolucionárias’), afirma que biologicamente o ser humano é capaz de manter uma rede de 150 amigos. Diante de perfis de redes sociais que ultrapassam os três mil amigos, a lista de Dunbar pode parece pessimista. Pessoalmente, considero-a até otimista, já que meu hall de amizades soma ao máximo dez pessoas.
Quantas vezes me emocionei ao ouvir o hino à amizade que se tornou célebre na voz de Milton Nascimento! “Amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração. Assim falava a canção que na América ouvi. Mas quem cantava chorou ao ver o seu amigo partir”. Esses sentimentos expressados na música refletem nossas conexões com pessoas que podemos contar nos dedos e a quem definimos amigos.
O livro mais vendido do mundo, a Bíblia, é repleto de relatos sobre amizade. O fato de ser a Palavra de Deus, podemos considerá-la uma Carta de amor do Amigo de Céu, que toma a iniciativa de falar com Seus filhos. “E falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer fala com o seu amigo”, conforme vemos no capítulo 33, de Êxodo. Ainda no Antigo Testemunho, há relatos de amizade como Davi e Jônatas, que apesar de seu pai Saul perseguir e tentar matar Davi, foi fiel ao amigo (I Sm 18-20). Há ainda relatos sobre a presença amiga de anjos, como Rafael que acompanhou Tobias em uma viagem.
Presenças preciosas são os amigos. “Amigo fiel é refúgio seguro: quem o encontrou encontrou um tesouro. Amigo fiel não tem preço: é um bem inestimável. Amigo fiel é um elixir de longa vida: os que temem o Senhor o encontrarão. Quem teme o Senhor dirige bem sua amizade: como ele é, tal será seu companheiro” (Eclo 6, 14-17).
No Novo Testamento, a morte do amigo leva Jesus às lágrimas. O Evangelista João dedica um versículo ao evento da morte de Lázaro: “Então Jesus chorou” (Jo 11, 35). Talvez, a partir dessa experiência, Cristo afirma que “não há maior amor do que dar a vida pelo amigo” (Jo 15, 13).
Papa Francisco destaca ainda a necessidade de cultivarmos a amizade com Cristo. “Jesus nunca nos deixa caídos por terra. Os amigos se apoiam, fazem-se companhia, protegem-se. Assim procede o Senhor conosco. Serve-nos de apoio.”
Ao longo da história, muitas pessoas percorreram o caminho de Jesus alcançando a santidade. Nesse caminho, foram presenteados com amigos como Clara e Francisco, Bento e Escolástica, Teresa e João. “Os Santos são nossos amigos e modelos (…), indispensáveis para quem sempre se olha a fim de dar o melhor de si mesmo”, ensina. A amizade proposta por Jesus é verdadeira e nos proporciona a fazer mais amigos. “Contagiar com a amizade de Jesus, onde quer que esteja, no trabalho, no estudo, na noitada, por WhastApp, no Facebook ou no Twitter. Quando saem para dançar ou estão a tomar um bom tereré. Na praça ou jogando uma partida no campo do bairro. É aí que estão os amigos de Jesus”, conclui o Papa Francisco.
Por Rodrigo Luiz dos Santos – Canção Nova