Muitas pessoas se afastam do amor verdadeiro porque acham que ele deve ser alguma coisa parecida com as histórias românticas retratadas nas novelas ou em filmes de Hollywood. “Ele/ela não me faz feliz do jeito que eu sonhava”… “Eu não tive aquela sensação intensa e clara de que ele/ela era a pessoa da minha vida”…
A nossa sociedade parece dizer que um belo dia nós vamos acordar e ver um arco-íris por cima da nossa cama, levando-nos ao encontro da “pessoa da nossa vida”. Esses devaneios que caem por terra depois do choque de realidade do casamento também levam muitos solteiros a se casar pelas razões erradas. “Eu sinto que ele/ela é a pessoa da minha vida”… “Eu não sei viver sem ele/ela”…
Tudo isto são sentimentos arrebatadores e maravilhosos. Mas não passam disso mesmo: meros sentimentos.
Que tal fazermos algumas reflexões simples para distinguir se a nossa ideia de amor vem de Deus ou das novelas?
1. Os sentimentos não são a realidade.
No mesmo instante em que os sentimentos vão embora, é muito fácil começarmos a duvidar. “Um relacionamento bom não pode ser tão difícil como este”… “O relacionamento deveria estar me fazendo feliz”… O papa Francisco nos disse: “Você não pode basear um casamento em sentimentos que vêm e vão. O casamento tem que se alicerçar na rocha do amor verdadeiro, do amor que vem de Deus”. Nós temos que fundamentar a nossa decisão de nos casar em uma sólida reflexão, que inclui pensar com objetividade se aquela pessoa nos desafia a ser melhores ou não.
2. Será que você não está apaixonado por você mesmo?
Se todo ato que realizamos se baseia em nossos caprichos e desejos, e se nós esperamos que alguém se apaixone pelo nosso egoísmo, está na hora de pensarmos melhor. O amor verdadeiro não é sinônimo de obter tudo aquilo que queremos. Não podemos esperar que o nosso cônjuge seja um pôster que se encaixe perfeitamente na nossa moldura pré-fabricada.
3. Mas então, o que é o verdadeiro amor?
O verdadeiro amor é sinônimo de sacrifício pessoal. São João Paulo II dizia que “o amor entre um homem e uma mulher não pode ser construído sem sacrifícios e abnegação pessoal”. O escritor Matthew Kelly acrescenta que “o amor é uma vontade de adaptar os nossos planos pessoais, desejos e compromissos ao bem do relacionamento. Amor é gratificação adiada. Amor é dor. Amor é ter a capacidade de viver e de prosperar sozinho e, mesmo assim, escolher estar junto”.
Todo relacionamento passa por alguma turbulência. O Catecismo nos diz que “o mal se faz sentir nas relações entre o homem e a mulher. A desordem que percebemos tão dolorosamente não decorre da natureza do homem e da mulher, nem da natureza das suas relações, mas sim do pecado original”. Nós precisamos, é claro, discernir qual é o grau de desordem presente em nosso relacionamento. Mas a desordem se manifesta, em alguma medida, inclusive nos relacionamentos mais sadios.
O problema pode ser, portanto, o pecado, e não o relacionamento em si. Tendemos a nos precipitar e a concluir que, se um relacionamento tem problemas, é porque o próprio relacionamento é um problema. Às vezes, pode não valer a pena continuar uma relação. Mas, num relacionamento sadio e vivido de acordo com Deus, alguns problemas são normais porque o pecado se manifesta em todas as relações. Todo relacionamento tem seus altos e baixos.
Surpreendentemente, o verdadeiro amor inclui o sofrimento. Matthew Kelly pergunta: “Você está disposto a sofrer por amor? Quanto você está disposto a sofrer para ter um relacionamento maravilhoso de verdade? Você está preparado para deixar de lado todos os seus caprichos, desejos e fantasias e ir atrás de algo maior?” Os relacionamentos não têm muita coisa a ver com a ideia de sermos perfeitos e felizes o tempo todo, e sim com a necessidade de sabermos perdoar. O papa Francisco nos lembra que “ninguém é perfeito. A chave para a felicidade é o perdão”.
“Casamento é trabalho e é um compromisso para toda a vida”, acrescenta o papa. “De certa forma, é como ser um ourives, porque o marido torna a sua esposa mais mulher e ela, por sua vez, deve tornar o marido um homem melhor”. Uma queixa comum é que um cônjuge está sempre tentando “mudar” o outro. A mudança é boa se nos torna mais santos. Por exemplo, pedir ao outro para beber menos em encontros sociais pode ser entendido como uma tentativa de forçar uma mudança indesejada, mas essa mudança é boa, porque nos torna pessoas melhores.
4. Por que casar se o casamento envolve sofrimento e trabalho?
Porque o casamento nos ajuda a ser pessoas melhores. O casamento nos ajuda a superar a própria absorção, o egoísmo, a busca do prazer individualista; ajuda a nos abrirmos ao outro, incentiva e exige o apoio mútuo e o dom de nós mesmos, como nos ensina o Catecismo.
“Queridos jovens, não tenham medo de se casar. Um casamento fiel e fecundo vai lhes trazer felicidade”, incentiva, de novo, o papa Francisco. Em última análise, o casamento com um cônjuge que é o seu melhor amigo e que compartilha do seu amor por Deus vai lhe trazer felicidade mesmo em meio ao sofrimento e ao trabalho.
Que tal examinarmos de maneira sincera o grau de realidade da nossa ideia de amor? O nosso ponto de vista sobre o amor verdadeiro, afinal, vem de Deus ou das novelas?
Por: Emily Brandenburg
Publicado em Aleteia