O Senhor, disse ainda o Papa, nos pede para não sermos hipócritas.
Querer “isso ou nada” não é católico, é “herético”. Foi a advertência que fez o Papa Francisco na missa celebrada na manhã de quinta-feira (09/06) na capela da Casa Santa Marta. A homilia do Pontífice foi centralizada no “realismo saudável” que o Senhor ensinou aos seus discípulos, inspirando-se na exortação de Jesus no Evangelho do dia: “A Vossa justiça deve ser maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus”.
O povo estava um pouco perdido, explicou o Papa, porque quem ensinava a lei não era coerente em seu testemunho de vida. Jesus pede que isso seja superado, que se vá além. E usa como exemplo o primeiro Mandamento: “Amar a Deus e amar ao próximo”. E destaca que quem se enfurece com seu irmão, deverá ser submetido ao juízo.
Insultar o irmão é como esbofetear a sua alma
“É importante ouvir isso, disse o Papa, neste período em que estamos tão acostumados aos adjetivos e temos um vocabulário tão criativo para insultar os outros”. Isso é pecado, é matar, porque é dar um tapa na alma do irmão, à sua dignidade, destacou Francisco. E com amargura acrescentou que, com frequência, dizemos tantos palavrões “com muita caridade, mas as dizemos aos outros”.
É escandaloso um homem de Igreja que faz o contrário daquilo que diz
A este povo desorientado, explicou o Papa, Jesus pede para que olhe “para cima” e vá “avante”. Sem, porém, deixar de relevar quanto mal faz ao povo o contra-testemunho dos cristãos:
“Quantas vezes nós na Igreja ouvimos essas coisas: quantas vezes! ‘Mas, aquele padre, aquele homem, aquela mulher da Ação Católica, aquele Bispo, aquele Papa nos dizem: ‘Vocês têm que fazer assim!’, e ele faz o contrário. Este é o escândalo que fere o povo e não deixa que o povo de Deus cresça, prossiga. Não liberta. Aquele povo tinha visto a rigidez desses escribas e fariseus. Inclusive quando havia um profeta que trazia um pouco de alegria, era perseguido e o matavam: não havia lugar para os profetas ali. E Jesus diz a eles, aos fariseus: ‘Vocês mataram os profetas, os perseguiram: eles que traziam novo ar’”.
Seguir o realismo saudável da Igreja, não a idealismos e rigidez
“A generosidade, a santidade”, que nos pede Jesus, “é sair, mas sempre, sempre para cima. Sair para cima”. Esta, disse Francisco, é a “libertação” da “rigidez da lei e também dos idealismos que não nos fazem bem”. Jesus, – comentou em seguida -, “nos conhece bem”, “conhece a nossa natureza”. Portanto, nos exorta a chegarmos a um acordo quando temos um contraste com o outro. “Jesus – disse o Papa – também nos ensina um realismo saudável”. “Muitas vezes – acrescentou – você não pode alcançar a perfeição, mas, pelo menos, faça o que você puder, chegue a um acordo”:
“Este é o realismo saudável da Igreja Católica, a Igreja Católica nunca ensina ‘ou isto ou aquilo’. Isso não é católico. A Igreja diz: ‘Este e este’. ‘Faz a perfeição: reconcilie-se com seu irmão. Não insultá-lo, mas Amá-lo. Mas se houver qualquer problema, pelo menos, coloque-se de acordo, para não iniciar uma guerra. Esse é o realismo saudável do catolicismo. Não é católico dizer “ou isto ou nada”: isso não é católico. Isso é herético. Jesus sempre sabe como caminhar conosco, nos dá o ideal, nos leva em direção ao ideal, libertar-nos deste encarceramento da rigidez da lei e nos diz: “Mas, façam até o ponto que vocês podem fazer’. E ele nos conhece bem. É este o nosso Senhor, é isso o que Ele nos ensina”.
Reconciliar-se entre nós, é a “santidade pequena” das negociações
O Senhor, disse ainda o Papa, nos pede para não sermos hipócritas: de não ir louvar a Deus com a mesma língua com a qual se insulta o irmão. “Façam o que puderem”, acrescentou, “é a exortação de Jesus”, “pelo menos, evitem a guerra entre vocês, coloquem-se de acordo”:
“Eu me permito de dizer-lhes esta palavra que parece um pouco estranha: é a pequena santidade da negociação. ‘Mas, eu não posso tudo, mas eu quero fazer tudo, mas eu me coloco de acordo com você, pelo menos não nos insultamos, não fazemos a guerra e vivemos todos em paz’. Jesus é grande! Ele nos liberta de todas as nossas misérias. Também daquele idealismo que não é católico. Peçamos ao Senhor que nos ensine, em primeiro lugar, a sair de toda rigidez, mas sair para cima, para sermos capazes de adorar e louvar a Deus; que nos ensine a nos reconciliarmos entre nós; e também, nos ensine a colocarmo-nos de acordo até o ponto que podemos fazê-lo”.
Referindo-se à presença de crianças na Missa, exortou a ficar “tranquilos”, “porque a pregação de uma criança na igreja é mais bela que a de um padre, de um bispo e do Papa”. “É a voz da inocência que faz bem a todos”, disse.