Homilia do Evangelho - DIA 11 TERÇA - Evangelho - Mc 7,1-13
Neste Evangelho, Jesus desmascara o que está por trás de certas práticas apresentadas como religiosas. E toma como exemplo a desobediência ao quarto mandamento. “Corban” era o voto pelo qual uma pessoa consagrava a Deus algum bem, tornando-o intocável e reservado somente ao tesouro do Templo, mas na verdade a intenção era livrar-se da obrigação sustentar os pais.
Nós precisamos de tradições e costumes, mas eles não podem colocar-se acima da Lei de Deus, nem serem considerados definitivos, pois a vida humana sempre evolui.
Não confundir com a Tradição, que é a maneira que a Igreja tem, inspirada pelo Espírito Santo, de interpretar as Sagradas Escrituras. Esta Tradição vem desde o tempo dos Apóstolos, e é perene. O problema é quando, aferrados a tradições humanas, nos afastamos da verdadeira Tradição da Igreja.
Mas o Espírito Santo, que acompanha a Igreja e as Comunidades, nos dá o dom do discernimento para distinguirmos o que vem da Tradição, e o que são meras tradições ou costumes humanos.
A citação do profeta Isaías, feita por Jesus, nos dá a chave para entendermos por que certas pessoas se aferram cegamente a tradições. É porque elas são incapazes de crer, por isso substituem a fé por certos costumes, aos quais se apegam e não querem largar, mesmo que a Hierarquia da Igreja se posicione contra: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim” (Is 29,13).
Certa vez, um jovem sacerdote tomou posse numa paróquia como pároco. Antes aquela paróquia tinha ficado um bom tempo sem padre.
Quando chegou a preparação da festa do padroeiro, a comissão da festa disse ao padre que era costume preparar dois almoços no dia da festa: um para o padre, as autoridades, os músicos da banda e os festeiros; e outro para todo o povão, mais de quinhentas pessoas.
O padre sugeriu que acabasse com essa tradição e fosse preparado um almoço só para todos. Entretanto, a comissão foi irredutível, e o padre acabou ficando calado.
Quando chegou o dia da festa, houve de manhã a procissão, em seguida a Missa e por fim o almoço. O almoço da elite foi preparado num clube, com leitoa assada, vinho e tudo mais; e o almoço do povo foi preparado num parque de exposições, com apenas galinhada, maionese e suco.
O padre, durante a Missa, teve uma idéia: Simplesmente “fugir” e ir almoçar com o povão.
Lá no clube deu o maior transtorno, porque ficaram esperando o padre para começar. Como ele não chegava nunca, foram atrás e o encontraram almoçando junto com as Irmãs religiosas, no meio do povão. Insistiram que ele fosse para o clube, pois a comida estava esfriando, mas ele foi irredutível e não foi. Acabaram almoçando sem o padre. No ano seguinte, ninguém duvidou: foi preparado um almoço só para todos e todas.
Se você fosse o padre naquela paróquia, que atitude você tomaria?
As tradições são necessárias na nossa vida em grupo, e também na Igreja; mas precisamos tomar cuidado para que elas não se tornem um contra testemunho.
Maria Santíssima não seguiu as tradições caducas do seu povo. A mulher não podia falar em público, ela falava. A mulher não costumava tomar iniciativas, ela tomava... Que Maria interceda por nós, a fim de só seguirmos tradições quando elas são benéficas e contribuem para o Reino de Deus.
Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens.
Padre Queiroz