Há muitas razões para entender a indissolubilidade do matrimônio
Jesus deixou bem claro que o casamento é uma realidade para toda a vida. Os fariseus perguntaram a Ele sobre o que Moisés tinha determinado, isto é, a possibilidade do divórcio: “É permitido a um homem rejeitar sua mulher por um motivo qualquer?” (Mt 19,3).
Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com
O Senhor lhes deu uma resposta enfática: “Não lestes que o Criador, no princípio, fez o homem e a mulher e disse: Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e os dois formarão uma só carne? Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu”. Jesus deixou claro: “Por causa da dureza de vosso coração que Moisés havia tolerado o repúdio das mulheres; mas no princípio não foi assim”. E, por isso, Ele disse: “Eu vos declaro que todo aquele que rejeita sua mulher, exceto no caso de matrimônio falso, e desposa uma outra, comete adultério. E aquele que desposa uma mulher rejeitada, comete também adultério” (Mt 19,3-10).
Jesus enfatizou que “no princípio não era assim”, ou seja, no coração de Deus, quando Ele criou o homem e a mulher, estabeleceu o casamento para sempre. “Sereis uma só carne” (Gen 2,23). Carne na Bíblia quer dizer natureza humana.
Há muitas razões para entender a indissolubilidade do matrimônio. São Paulo compara o casamento com a união de Cristo com Sua Esposa, a Igreja. “Maridos, amai as vossas esposas como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela” (Ef 5,25). Ora, então o casamento é sinal da união eterna de Jesus com a Igreja, e de maneira indissolúvel. Ele não se separa da Igreja nem a Igreja d’Ele. O Senhor derramou Seu Sangue por amor à Igreja, e Seus mártires fizeram o mesmo por amor a Ele.
A marca do verdadeiro amor é a indissolubilidade, pois amar é decidir fazer o outro feliz sempre. Isso não tem limite de tempo. Um amor provisório não é amor. Amar é comprometer-se com a felicidade do outro para sempre: na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, amando-o e respeitando-o todos os dias da sua vida.
O casamento é a base da família, e esta é a base da sociedade. Se o casamento se dissolver, a família se dissolverá e a sociedade perecerá. O Papa João Paulo II usou palavras muito fortes para explicar isso. Ele disse que “a família é insubstituível”, que ela é “o santuário da vida”, um “patrimônio da humanidade”. Ela é a “Igreja doméstica”. Da importância da família se entende a importância da indissolubilidade matrimonial.
O casamento faz surgir uma prole: filhos, netos, bisnetos… É desta união permanente que surge a beleza de uma família, berço da vida. É triste quando se quebra o vínculo da unidade pela separação do casal. Por isso, é necessário que os casamentos sejam bem preparados, de modo que não haja casamentos que mais tarde um Tribunal da Igreja possa declarar que foi nulo. E, infelizmente, isso tem acontecido muito, porque falta uma boa preparação para os casamentos. Muitos se casam sem maturidade, sem saber profundamente o que significa “amar”, dar a vida pelo outro e pela família.
Há casamentos que duram 50, 60, 65 anos… Uma vez li essa história:
“Um famoso professor se encontrou com um grupo de jovens que falava contra o casamento. Argumentavam que o que mantém um casal é o romantismo e que é preferível acabar com a relação quando esse se apaga, em vez de se submeter à triste monotonia do matrimônio.
O mestre disse que respeitava a opinião deles, mas lhes contou a seguinte história: “Meus pais viveram 55 anos casados. Numa manhã, minha mãe descia as escadas para preparar o café e sofreu um enfarto. Meu pai correu até ela, levantou-a como pôde e quase se arrastando a levou até à caminhonete. Dirigiu a toda velocidade até o hospital, mas quando chegou, infelizmente ela já estava morta. Durante o velório, meu pai não falou. Ficava o tempo todo olhando para o nada. Quase não chorou. Eu e meus irmãos tentamos, em vão, quebrar a nostalgia recordando momentos engraçados.
Na hora do sepultamento, papai, já mais calmo, passou a mão sobre o caixão e falou com sentida emoção: “Meus filhos, foram 55 bons anos. Ninguém pode falar do amor verdadeiro se não tem ideia do que é compartilhar a vida com alguém por tanto tempo“. Ele fez uma pausa, enxugou as lágrimas e continuou: “Ela e eu estivemos juntos em muitas crises. Mudei de emprego, renovamos toda a mobília quando vendemos a casa e mudamos de cidade. Compartilhamos a alegria de ver nossos filhos concluírem a faculdade, choramos um ao lado do outro quando entes queridos partiam. Oramos juntos na sala de espera de alguns hospitais, nos apoiamos na hora da dor, trocamos abraços em cada Natal e perdoamos nossos erros. Filhos, agora ela se foi, eu estou contente. E vocês sabem por quê? Porque ela se foi antes de mim e não teve de viver a agonia e a dor de me enterrar, de ficar só depois da minha partida. Sou eu que vou passar por essa situação, e agradeço a Deus por isso. Eu a amo tanto que não gostaria que sofresse assim”.
Quando meu pai terminou de falar, meus irmãos e eu estávamos com os rostos cobertos de lágrimas. Nós o abraçamos e ele nos consolou dizendo: “Está tudo bem, meus filhos, podemos ir para casa”.
Esse foi um bom dia. E, por fim, o professor concluiu: “Naquele dia, entendi o que é o verdadeiro amor. Ele está muito além do romantismo, e não tem muito a ver com o erotismo, mas se vincula ao trabalho e ao cuidado a que se professam duas pessoas realmente comprometidas”.
Quando o mestre terminou de falar, os jovens universitários não puderam argumentar, pois esse tipo de amor era algo que não conheciam. O verdadeiro amor se revela nos pequenos gestos, no dia a dia e por todos os dias. O verdadeiro amor não é egoísta, não é presunçoso nem alimenta o desejo de posse sobre a pessoa amada.
“Quem caminha sozinho pode até chegar mais rápido, mas aquele que vai acompanhado com certeza chegará mais longe.” “A paciência pode ser amarga, mas seus frutos são doces.”
Felipe Aquino
Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Tv. Canção Nova.