Na santa Missa, quando o presidente da celebração introduz a oração do “Pai nosso”, tem à sua disposição várias formas para convidar a comunidade a apresentar ao Pai os pedidos que Jesus nos ensinou a fazer. Uma delas, a mais antiga, propõe: “Obedientes à palavra do Salvador e formados por seu divino ensinamento, ousamos dizer…”
“Ousamos dizer….” Sim, somente impulsionados por uma santa ousadia nós, pecadores, temos mesmo a coragem de apresentar a Deus pedidos tão amplos e grandiosos como os sete que fazem parte do “Pai nosso”. Mas quem nos ensina a ter tal ousadia é o próprio Jesus. É que seus discípulos, vendo-o em oração, lhe pediram: “Ensina-nos a rezar!” (Lc 11,1). Os discípulos, como bons judeus, sabiam rezar. A oração dos Salmos era parte integrante de seus encontros, aos sábados, na Sinagoga. Mas eles queriam rezar como Jesus. Desejavam, na verdade, entrar em sua intimidade. Aprenderam, então, que rezando ao “nosso” Pai, é a seu Pai – o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo – que nos dirigimos pessoalmente, e o fazemos com confiança, porque Jesus nos purifica de nossos pecados (cf. Hb 1,3) e nos introduz diante da face do Pai (cf. Hb 2,13).
Ao rezar o “Pai nosso” fazemos sete pedidos; sete bênçãos. A primeira série de pedidos tem por objeto a glória do Pai: a santificação de Seu nome, a vinda de Seu Reino e o cumprimento de Sua vontade. Aí está uma característica do amor: pensar primeiramente naquele que amamos. Os quatro pedidos seguintes apresentam-lhe nossos desejos: eles dizem respeito à nossa vida, para nutri-la ou para curá-la do pecado, e se relacionam com nosso combate, visando à vitória do Bem sobre o Mal.
Eis nossas solicitações:
1º – “Santificado seja vosso nome”. Ao pedir isso, entramos no plano de Deus. Seu nome, revelado a Moisés e apresentado por Jesus, deve ser santificado em todas as nações e por todos os seres humanos.
2º – “Venha a nós o vosso Reino”. Com esse segundo pedido, temos em vista principalmente a volta de Cristo e a vinda final do Reino de Deus; solicitamos, também, pelo crescimento de Seu Reino no “hoje” de nossas vidas.
3º – “Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu”. No terceiro pedido, rezamos a nosso Pai para que se realize o que Ele deseja; e o que Ele mais deseja é “que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,3-4).
4º – “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”. Esse quarto pedido exprime nossa confiança filial no Pai do céu. “Pão nosso” designa o alimento terrestre necessário à subsistência de todos nós, mas significa, também, a Palavra de Deus e o Corpo de Cristo. Trata-se, pois, de um alimento indispensável à nossa vida e essencial no Banquete do Reino que a Eucaristia antecipa.
5º – “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos têm ofendido”. O quinto pedido implora a misericórdia de Deus para nossas ofensas – misericórdia que somente pode penetrar em nosso coração se soubermos perdoar a todos, a exemplo de Cristo.
6º – “Não nos deixeis cair em tentação”. Aqui, rogamos a Deus que não nos permita trilhar o caminho que conduz ao pecado. Esse pedido implora o Espírito de discernimento e de fortaleza; solicita a graça da vigilância e a perseverança final. “Ser tentado” faz parte da vida; é uma das consequências do pecado original em nós. O problema nasce quando consentimos na tentação.
7º – “Mas livrai-nos do mal”. No último pedido, solicitamos que se manifeste a vitória já alcançada por Cristo sobre Satanás – aquele que se opõe frontalmente a Deus e a seu plano de salvação. O mal, aqui, não é uma abstração, mas designa uma pessoa – o pai da mentira. A vitória sobre o “príncipe deste mundo” (cf. Jo 14,30) foi alcançada, de uma vez por todas, por Jesus.
Pelo “Amém” final exprimimos nossa concordância total em relação aos pedidos feitos. Ora, como Deus, “rico em misericórdia” (Ef 2,4), Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, deixaria de atender a nossos ousados pedidos, já que feitos com tanta confiança?…
Dom Murilo S.R. Krieger, scj